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quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Le scaphandre et le papillon


"O Escafandro e a Borboleta" é um filme lançado em 2007 por Julian Schnabel baseado no livro de mesma nomenclatura lançado em 1997 que é a auto-biografia de Jean-Dominique Bauby. Um jornalista reconhecido na França editor da Revista Elle que sofre um AVC (acidente vascular cerebral) entra em coma e quando acorda deste estado descobre que está completamente paralisado restando de movimento apenas o piscar de olho - e apenas um, o esquerdo - além da memória e da imaginação intactas.

Dai vem o nome do livro/filme, pois o escafandro é a metáfora encontrada pelo autor para exemplificar seu estado na síndrome do encarceramento (locked in), a borboleta é a tradutora que pacientemente dita o alfabeto para que Bauby possa piscar o olho quando escolher a letra. É, ele ditou o livro letra por letra. E não é apenas esse exercício de paciência que considero mais do que louvável, Bauby conseguia organizar os pensamentos, ele compôs e editou o livro mentalmente enquanto ditava piscando o olho!

O ator Mathieu Amalric (que fez o vilão de 007 - Quantum of Solace) e a bela Emmanuelle Seigner (de Lua de Fel) estão muito bem, inclusive Mathieu ganhou prêmio César por este papel e o filme rendeu ao diretor Schnabel troféu no Festival e Cannes, o Globo de Ouro e uma indicação ao Oscar.

A história é contada do ponto de vista do personagem principal, Jean-Dominique Bauby, então o telespectador enxerga como teoricamente ele estava enxergando e lê/escuta seus pensamentos, que diga-se de passagem são bem agridoce. A estética do filme chama atenção pelo simbolismo e surrealismo e  que considero foram bem sucedidos.

Particularmente a trilha sonora e a fotografia muito me agradaram, e fiquei pensando que Bauby pode ter tido como uma espécie de missão escrever o livro, que o fez durante dois anos, e faleceu dez dias depois do lançamento. Fica como uma grande lição de que desperdiçamos dias, horas e sentimentos por coisas que não teriam tanta importância se olharmos com mais atenção.

5 Estrelas, mas não indico para todos.

sábado, 19 de novembro de 2011

Malu de Bicicleta


Esse filme deveria se chamar "Ciúme, o mal que se auto-sustenta", mas acho que ficaria meio agressivo e isso não agrada ao grande público. Escritor e roteirista, Marcelo Rubens Paiva que se diz grande conhecedor das mulheres, deveria se auto titular conhecedor dos homens também.

Então "Malu de Bicicleta" é um romance pouco idealizado e bem próximo do que eu acredito que seja o problema da maioria dos casais. Não digo que todos somos Luiz e Malu porque de fato não é a maioria que tem sexy appeal (borogodó, ou gogó), mas quando encontramos alguém com quem gostaríamos de passar todos os dias de nossas vidas, alguém por quem deixaríamos à moda Renato Russo "a segurança do seu mundo por amor", desenvolvemos juntamente com o amor pelo outro um medo de perder.

Ok, se fosse somente o medo acho que seria algo que com o tempo iríamos amenizando, mas junto vem a insegurança e com ela vem o ciúme. Esse filme mostra como o ciúme se auto-sustenta, você não precisa cultivar, ele se auto-alimenta e quando você se da conta já não confia mais na pessoa que ama.

O personagem de Marcelo Serrado (que está muito bem no filme e dando um banho de atuação na novela Fina Estampa) era o que chamamos de "solteiro convicto" e meio que sem querer é atropelado pela personagem de Fernanda de Freitas (que corrobora a minha teoria de que não existe Fernanda feia) e por algum golpe do destino ou ironia Divina se apaixona por ela.
Malu é o estereótipo de uma carioca zona sul, bonita, descolada com muitos amigos e que faz terapia provavelmente para entender porque é tão complicado manter relacionamentos. Luiz e Malu não se desgrudam mais, só que ele é paulistano e ela carioca, e Malu vai então morar com ele.

Achei diferente que nesse filme mostra o homem ficando completamente neurótico de ciúme e desconfiança tendo conversas com seus amigos, na maioria dos filmes vejo a mulher fazendo isso. Bom, Luiz vai permitindo que o ciúme tome conta dele e começa a se afastar no relacionamento, e Malu sem entender começa a pensar que ele está incomodado com a presença dela ou que está tendo um caso. Desencontros e falta de comunicação culminam em Luiz agarrado com a personagem de Marjorie Estiano na cozinha do casal com Malu entrando pela porta.

Batom na cueca, não tem explicação. Não existe motivação que leve a perdão e enfim, acabou o amor. Quem dera que fosse assim... Acho que para algumas pessoas é, mas cada um tem um jeito de lidar com o ciúme e a decepção de uma traição. Claro que já fui traída, quem não foi? E não foi a pior dor que já senti na vida, mas doeu e demorou pra cicatrizar. Pois é, tem gente que não cicatriza e dai acaba o amor.

 Recomendo "Malu de Bicicleta" para uma terça ou sexta a noite depois de um dia cansativo para assistir ao filme e relaxar, perceber que existem paisagens lindas e pessoas maravilhosas e que nem por isso a gente tem que "pular a cerca" ou que muitas vezes estragamos algo bom por fofoca ou desconfiança.
Fica a dica, com direito a trailler. 3 estrelas pro filme.

domingo, 6 de novembro de 2011

Chocolate quente e algumas montanhas

"Digam o que disserem
O mal do século é a solidão
Cada um de nós imerso em sua própria arrogância
Esperando por um pouco de afeição" (Esperando por mim - Legião Urbana)


Que eu amo Legião Urbana qualquer um que veio aqui já deve ter percebido, mas Renato Russo que me perdoe, vou discordar: O mal do século é a ansiedade. Ansiedade nada mais é do que esse desconforto em viver o presente num "desespero" quanto as inseguranças do futuro, ou seja, é o desconforto gerado pelo descontrole do tempo em que as coisas acontecem.

Algumas pessoas roem unhas, outras comem chocolate, mas cada um desenvolve uma compulsão para lidar com a ansiedade que a maioria de nós sente frequentemente ou sente em períodos de instabilidade.

Acredito que a solidão também seja um grande mal do século, as pessoas me parecem cada vez mais sozinhas mesmo quando estão acompanhadas, sinto um certo vazio em muitos olhares. "Os olhos são as janelas da alma", como você deve saber, e um olhar vazio denota mais que tudo uma grande solidão. Lembrando que solidão não é a mesma coisa que estar sozinho... Solidão denota evasão de outros sentimentos, e sentimos solidão mesmo que não estejamos sozinhos.

Mas voltando a ansiedade, sabe que ter muitas incertezas na vida gera grande ansiedade? Pois é, estou descobrindo isso no momento. Só que, por mais incrível que pareça, a ansiedade sumiu e ficou um sentimento de certeza de que "vai ficar tudo bem não precisa correr" e de repente uma paz me envolveu. Por que estou te contando isso? Para te explicar a minha humilde descoberta: a ansiedade vem do medo que temos que o "amanhã" seja pior do que o "hoje", porque no fundo todos nós queremos que "fique tudo bem", no estilo Gonzaguinha "sempre desejada(a vida), por mais que esteja errada, ninguém quer a morte, só saúde e sorte".  

Algumas linhas religiosas defendem que "Deus tem um plano para cada um de nós", o problema é que ninguém tem certeza de que o plano divino é com final feliz! Isso não é blasfêmia, isso é constatação. A nossa única certeza é que vamos morrer um dia, e procuramos aproveitar os momentos antes disso. Então o destino é um caminho com algumas pedras que precisamos passar nessa vida que não tem muito sentido mas que encontramos sentidos e significados a cada momento...

Acho que a conclusão que eu cheguei é que não são os tropeços que damos pela vida, ou o quão grande seja o buraco que caímos, o importante é como lidamos com a queda e como encontramos a saída no escuro. Não sei como se aprende a levantar, não penso que seja uma única solução para todos nós, mas de fato existem pessoas que nunca se levantam, outras que mostram estarem bem mas na realidade ainda lambem as feridas, e algumas pessoas que aprendem com seus buracos negros e aproveitam esse crescimento. Então não há receita de que dias melhores virão, o que existe é um esforço pessoal de olhar o lado bom das coisas que passamos (sim, estilo Pollyana) e observar que as coisas podem piorar mas isso não significa que não haverão bons momentos, boas risadas e boas memórias.

"Tudo vale a pena quando a alma não é pequena." (Fernando Pessôa)