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sábado, 14 de maio de 2011

O Não Dito

Memória

Amar o perdido

deixa confundido
este coração.

Nada pode o olvido

contra o sem sentido
apelo do Não.

As coisas tangíveis

tornam-se insensíveis
à palma da mão

Mas as coisas findas

muito mais que lindas,
essas ficarão. 
Carlos Drummond de Andrade


Drummond Drummond...

Queria conseguir traduzir em palavras tudo o que sinto, queria conseguir falar quando encontro as palavras, mas não encontro e não consigo falar. Talvez seja porque quando abro a boca e o som começa a sair, vem junto uma avalanche de emoções que capturam minha voz, e no final ficam apenas os soluços embrulhados com lágrimas. Por isso eu escrevo, assim as lágrimas escorrem mas não me calam. Mas a palavra escrita perde um pouco da emoção, quando falamos nosso gestual e intonação ajudam a passar ao interlocutor tudo o que deve ser agregado as palavras. Outra coisa que me mata são os olhos. O contato visual me deixa mais vulnerável as minhas emoções e ao outro, assim pela escrita você me lê, mas não enxerga minha alma.

Mas cada um com seu cada um, não é?! Somos todos diferentes e percebemos o mundo de maneiras tão diversas.

As vezes parece que eu perdi o chão, mas lembro das coisas boas que me trouxeram tantos momentos felizes, e lembro das ruins também que me fizeram mais forte. E somos assim, um esboço de um quadro não terminado, um rascunho definitivo, pois não podemos refazer nossos passos.


" Fiquei triste. Num momento você estava aqui, no outro já não estava. Igual a um bicho de estimação que morre de repente e somem com o corpo.
Para onde foi tudo aquilo? Que tínhamos tão seguro. Tão certos de sua eternidade. Para onde foi, hein? Meu peito, depósito subitamente esvaziado, aperta-se no meio de tanto espaço.Tento identificar o instante, quando o que tínhamos se perdeu. Mas nem sei se o perdemos juntos ou se juntos já não estávamos. Me desespera saber que um amor, um dia desses tão grande, possa ter desaparecido com tanta facilidade.
Como já disse, estou triste; e isso me faz acreditar no poder das cartas. Não falo de tarô, mas destas, escritas e mandadas ou não mandadas. Cheias de questões e metáforas, que assim, misturadas cuidadosamente, num cafona português polido, soam mais sensatas.
Qual poder espero desta carta? Simples: que deixe registrado este meu estranho momento. Quando o que devia ser alívio revela-se angústia. E a cabeça não pára, vasculhando cantos vazios.Não gosto de perder as minhas coisas, você sabe. E hoje, cercada pela sua ausência, procuro o que procurar. Experimentando o desânimo da busca desiludida. Pois, se um amor como aquele acaba dessa maneira, vale a pena encontrar um outro? Será inteligente apostar tanto de novo?Aposto que você está pouco se lixando para isso tudo. Que seguiu sua vida tranqüilamente, como se nada de tão importante tivesse ocorrido. E está até achando graça desta minha carta, julgando-a patética e ridícula. Você, redundante como sempre.
Só há uma coisa certa a respeito disso: não desejo resposta sua. É, esta é uma daquelas cartas que não são para ser respondidas. Apenas lidas, relidas, depois picadas em pedacinhos. Sendo esse o destino mais nobre para as emoções abandonadas.
Queria apenas pedir um favor antes que você rasgue este resto do que tivemos. Se algum dia, tendo bebido demais, sei lá, você acabar pensando tolices parecidas com estas, escreva também uma carta. Mesmo sem jamais saber o que você irá dizer, sei que ela fará de mim menos ridícula. Neste amor e, por isso, em todo o resto. Pois adoraria que você fosse capaz de tanto - escrever uma carta é um ato de desmedida coragem. E eu ficaria, enfim, feliz comigo, por tê-lo amado.
Um homem assim, capaz de escrever bobagens amorosas.Então é isso - como sou insuportavelmente romântica, meu Deus. Termino aqui essa história, de minha parte, contando que estas palavras façam jus ao fim do amor que senti. E deixando este testamento de dor, onde me reconheço fraca e irremediável. Porque ainda gostaria de poder acreditar que você nadaria de volta para mim."
Fernanda Young

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